sábado, 28 de abril de 2012

1º Aniversário

E já fez um ano, no dia 2 de Abril, que escrevi pela primeira vez neste blog. 
Aqui ficam as palavras para recordar!

"A minha próxima viagem já começou... começo a viajar no momento em que coloco a hipótese de visitar e conhecer qualquer lugar... depois vem a marcação do vôo, a marcação do hotel, o "estudo intensivo" semanas antes da partida e finalmente a VIAGEM!! 

Encontro-me na fase de "estudo" e após explorar os imensos blogs que existem sobre viagens... pensei!!... e porque não, também eu, partilhar aquilo que vi, o que conheci, o que correu melhor e até o pior que encontrei em cada local. Sim!!... é tão importante partilhar... porque muito me têm ajudado os relatos de outros amantes do mundo como eu...

Para viajar temos de ter uma mente aberta, gostar de correr o risco... quantos de vós não viajam pelo receio de não saber o que vos espera do outro lado!?? Eu tive a sorte de encontrar alguém que puxou por mim e me fez ver que é bem mais saboroso correr o risco do que ficar no arrependimento de não conhecer e, principalmente, VIVER outros lugares com os nossos próprios olhos... SENTIR o cheio de outros povos... SABOREAR a cultura vivida por outras raízes que não as nossas!!

E assim, na busca incessante de encontrar informação sobre PARIS surge esta vontade de partilha!!"

Hoje, passado todo este tempo, não me arrependo da partilha... dos comentários recebidos, das descobertas feitas... numa palavra é ENRIQUECEDOR!! 

Obrigada pelas mais de 10 mil visitas e espero continuar a agradar a quem visita...




domingo, 22 de abril de 2012

Marraquexe... المغرب ...

Marrocos é um país que seduz pela riqueza cultural, pela diferença e autenticidade das suas tradições, pelas paisagens únicas... Marraquexe é tão importante que deu o nome a Marrocos. Durante mais de dois séculos, esta cidade berbere, no ponto de intercâmbio entre o Sara, o Atlas e o Antilhas foi o centro de um grande império. 

Durante muito tempo resisti à hipotese de visitar Marrocos pela preocupação que as histórias ouvidas me traziam!! Mas não, Marrocos não é um país perigoso, ou melhor, falo de Marraquexe. Os marroquinos são simpáticos e afáveis... porém, como em qualquer parte do muito é preciso ter bom senso! Sinceramente senti-me tão segura ali como em alguns países europeus.

Este  foi o meu primeiro contacto com a cultura árabe. Recomendo, sem sombra de dúvida, esta cidade a qualquer português que procure um pouco de exotismo e queira entrar no mundo árabe. A grande vantagem de Marraquexe, em relação a outras cidades marroquinas, é termos agora voos low cost aqui tão perto! No caso de Portugal os vôos Porto-Marraquexe e de Espanha os vôos Sevilha-Marraquexe.


Para quem vive no Algarve, o Aeroporto de San Pablo em Sevilha é uma excelente alternativa, uma vez que, fica a pouco mais de 200 Km. Este aeroporto oferece-nos estacionamento de longa duração, a 5 minutos a pé do terminal de partidas/chegadas, a preços bastante razoáveis. Sugiro-vos que utilizem a Aparcalia e que façam reserva antecipadamente, pois só assim obterão descontos.

O vôo de Sevilha para Marraquexe demora apenas uma hora e dez minutos... e voilá, chegamos ao Aeroporto Internacional de Menara que fica a apenas 6 Km do centro da cidade. O transporte para o centro pode ser feito de táxi ou de autocarro (leva cerca de 20 minutos). Nós optamos pelo autocarro (é o número 19) que custa só ida 30 Dirhams (DH) e ida e volta 50 DH (sendo que 1€ são aproximadamente 10 DH) e nos deixa mesmo em frente à praça principal. O táxi, como quase tudo em Marraquexe, não tem preço fixo... regateia-se!! 
Aeroporto Internacional de Menara
Todos os negociantes adoptam o estratagema tão próprio daquele país que é a abordagem insistente. No mundo deles, negociar é imperativo. Dito por eles... o preço aqui é democrático... e, quer sejam objetos, o táxi, o quarto de hotel ou a comida... há sempre um preço inflacionado para o turista. Posso-vos dizer que tudo o que comprámos custou menos de metade do preço inicial. 

Como queríamos absorver totalmente aquela cultura resolvemos escolher um alojamento mesmo dentro da medina e, através do Booking, escolhemos um Riad (são casas tradicionais marroquinas situadas dentro da zona velha das cidades). Vale a pena, com muda decoração a rigor e um o sossego, mesmo ali ao lado da fervilhante praça Djema el-Fnaa, encantador. 

Encontrar qualquer local numa Medina labiríntica é realmente complicado, um vez que os mapas não dão indicações das ruas mais pequenas. Mas não há que preocupar... de minuto a minuto alguém aparece a oferecer ajuda (ajuda com direito a gratificação no final claro). A boa vontade tem um preço nas ruas da medina de Marraquexe! 
Porém, passado algum tempo e com algum sentido de orientação, acabamos sempre por encontrar o que procurávamos... a dica é perguntar aos locais para que lado fica a praça!!
Três dias chegam para conhecer o essencial de Marraquexe... mas, ao contrário de algumas cidades em que ao terceiro dia digo "Já me posso ir embora que levo a alma renovada com esta nova cidade", ali senti que ir embora me deixaria uma nostalgia exagerada... e, é o que sinto, as raízes de África são realmente muito quentes e agarram-nos a alma! 

Falo-vos agora dos pontos turísticos que conheci e de outros interessantes que deixei para ver da próxima vez (ah sim, vai haver próxima vez com certeza).

É na Praça Djema el-Fnaa (Património Mundial da UNESCO) onde tudo acontece. Durante o correr do dia esta praça ganha diferentes formas e conteúdos. É essencial visitá-la a diferentes horas. A praça acorda lentamente e vai ganhando uma vida, alicerçada numa rotina diária de montar e desmontar tasquinhas, incrível. É a partir das 16h/17h que esta azáfama começa... cozinhas, mesas, cadeiras, tendas e menus surgem quase por magia... sugerindo um verdadeiro mundo de sensações.
O paladar marroquino, apesar da sua cozinha simples, é bem gostosa. Arrastados por esta magia emergem de parte incerta sons de instrumentos musicais que nos ativam a audição, cores de tecidos e trabalhados em pele estimulam a visão, odores intensos das especiarias e das essências polvilham o olfato e, até a sensação do tato é despertada pelos atrevidos macacos ou pelos corajosos encantadores de cobras.
Esta é a perfeita prova de que a Internet é um mundo fascinante de partilha mas que não substitui a presença in loco.

Em volta da praça existem também restaurantes, que em regra geral, têm preços acessíveis e terraços com vista panorâmica. Para apreciar uma vista panorâmica sobre a praça sugiro-vos o Café Glacier que possui um terraço esplêndido e, onde os preços são acessíveis. Este é sem dúvida um dos cafés mais concorridos da praça por estes dois motivos.


E já que falamos de sabores, revelo-vos os pratos típicos que ali experimentei. A Tagine é um prato tradicional de diversos países árabes do norte de Africa, mas oriundo de Marrocos. É também o nome da panela especial utilizada na sua confecção, que é feita com barro. As Tagines resistem a temperaturas altas e são formadas por duas peças: uma base e uma tampa com forma cónica concebida para que o vapor condensado volte para a base. Normalmente é servido à mesa na base. Pode-se comer Tagines de frango e citrinos (mqualli), de carne (kefta - almondegas e tomate) ou de borrego, passas e amendoas (mrouzia), colocam-se habitualmente no topo da tampa um citrino para aromatizar o prato...
Hummmm Tagine de Frango aromatizada com limão... Gostei!!
Depois temos o típico couscous que se come com frango, cordeiro, peixe ou legumes. Que é mais conhecido entre nos portugueses e, finalmente, as espetadas.
A comida Marroquina é, em geral, mais condimentada do que a nossa. Posso-vos dizer que uma refeição completa com uma salada, uma tajine e uma bebida ronda os 30DH a 50DH (3 a 5€). É por isso muito barato comer em Marrocos.


Foi curioso experimentar os caracóis marroquinos que também se vendem em barracas na praça por 6/8 DH um pratinho pequeno ou grande... sim, não chega a 1 €.
As barraquinhas de sumo fazem fila e essas são permanentes... dia e noite ali estão elas com os seus vendedores sempre a chamar para oferecer um sumo de laranja por 4 DH (0,40€).

Bem, além da comida existem uma série de atrações nesta praça que vão desde o vendedor de marroquinaria, às senhoras que embelezam com as tintas de henna, músicos que agitam as karkabas, aos encantadores de cobras e aos macacos que saltam para "catar" as cabeças dos turistas.


A palavra mesquita (masjid) é usada para se referir a todos os tipos de edifícios dedicados ao culto muçulmano, embora em árabe seja feita uma distinção entre as mesquitas de dimensões menores e as mesquitas de dimensão maiores (masjid jami), que possuem estruturas sociais. 
As Mesquitas são edifícios muito bonitos de admirar aprecio principalmente as portas imponentes que possuem. No entanto, o seu interior é impossível de visitar, pois em Marrocos não é permitido aos não muçulmanos entrarem nas mesquitas. E esta foi, a única coisa que não me agradou em Marraquexe, a proibição não é razoável, pois nas nossas igrejas cristãs a entrada é livre a todos.
Como em qualquer cidade islâmica, os minaretes das mesquitas pontilham por toda a cidade. E à hora devida, a chamada para a oração é ouvida em todas as direcções.
Mesmo ali a poucos metros da Djema El Fnaa fica a mesquita da Koutoubia, cuja construção foi iniciada em 1147. O seu minerete é uma obra-prima, de 69 metros de altura, que mais tarde serviu de modelo à torre de Giralda de Sevilha e à Torre de Hassan em Rabat. 
Infelizmente, à semelhança das outras mesquitas marroquinas não é possível visitar o seu interior. Mas é possível desfrutar dos jardins que a rodeiam.


A entrada para o pátio da Mesquita é uma simples porta que segue o design da maioria dos importantes edifícios marroquinos: um arco em ferradura decorado.

As vermelhas muralhas de Marraquexe tem 12 Km de extensão, cerca de 9 de altura, 2 metros de espessura e mais de uma dezena de portões que formam este círculo protetor em volta da Medina.
O mais imponente dos portões da muralha.
Os principais portões da muralha são o Bab El Raha, o Bab Nkob, o Bab Doukala, o Bab El-Khemis, o Bab Ed-Debbagh, o Bab Aylen, o Bab Aghmat, o Bab Ahmar, o Bab ech-Charia, o Bab El-Jedid, este último a poucos metros do Hotel La Mamounia (inaugurado em 1929, está localizado numa antiga residência do século XVIII, possui um magnifico jardim com 130000m2). 

É frequente ver turistas em charretes (outro dos negócios virados para o turismo) a fazer o percurso que envolve a medina.





O museu de Marraquexe é o antigo palácio de Dar Mnebhi, construído no final do século XIX e autêntica jóia da arquitetura marroquina. Tem exposições permanentes e exposições temporárias. Dentro do museu encontra-se, no pátio, um candeeiro de enormes dimensões tipicamente marroquino. Localiza-se no centro da medina, junto à Mederssa Ben Youssef.



O bilhete de entrada para o Museu pode ser combinado com o da Mederssa Ben Youssef, sendo que fica mais barato (60DH). A palavra em árabe - Mederssa - significa “escola”. Neste caso trata-se de uma escola onde era ensinado o Corão. Construída no século XIV, esteve em funcionamento até 1960 e podia albergar até 900 estudantes. Era uma das maiores do norte de África e o seu pátio ricamente decorado com mármore, madeira de cedro e estuque esculpidos com motivos geométrico e passagens do Corão. É dos monumentos mais bonitos da cidade.




A curtição é o processo de converter a pele animal em couro e constitui uma indústria muito importante em Marrocos. Descrita por alguns como um local feio, um terror. Decidimos visitá-las para conhecer este interessante processo. Como já tínhamos ouvido dizer que o cheiro era insuportável, fomos logo pela manhã... evitando assim a hora de maior calor do dia.

Os locais de curtição das peles ficam num recanto da medina muito menos visitado pelos turistas, os nativos vêem-se por todos os cantos por entre conversas e olhares curiosos pelos poucos estrangeiros que por ali passam. Na caminhada até ao local todos apontam-nos o caminho que já se adivinha pelos imensos burros carregados de peles que se cruzam connosco. Quase a chegar ao local começam os "guias" a oferecer serviços... então lá nos deixamos ir por um deles que nos levou a dois locais, um dito como berbere por ser feito com animais de grande porte e outro não com animais menores.




À entrada entregam-nos um ramo de hortelã para que durante as visitas consigamos suportar o cheiro nauseabundo que envolve todo este processo. Aquando da chegada das peles dos animais ao local é colocada numa solução composta por água, cal, sal e fezes de pomba, de seguida ficam de molho e protegidas do sol com os corantes que lhes conferem cor, depois de secarem são guardadas em farinha para amaciar e, por fim, trabalhadas.






No final desta visita, como já era de prever, o "guia" levou-nos a uma loja de peles, onde nos foi impingidos vários artigos em pele... malas, sapatos, pufs, cintos e tapetes. Como já era nosso objetivo comprar qualquer desde artigo e pela curiosidade de saber como iriam negociar connosco, deixámo-nos levar!! Foi engraçado, o vendedor pegou num bloco de notas e fez dois quadrados, num deles iria colocar o preço dele e no outro nós o nosso... e ali estivemos uma boa meia-hora... caderno vai, caderno vem até chegarmos a um preço que agradasse a ambos.

Existem outros pontos turísticos interessante que poderia descrever com base na pesquisa que fiz, no entanto, não os visitamos. De modo que vou apenas referir os mesmos... Jardins de Menara, Jardim Majorelle, Palmeraie, Palácio Badii, Túmulos Sádidas, Kouba El Badiyin.

Vou agora falar-vos dos souks, palavra árabe para mercados, de Marraquexe que são outra explosão de sons, cores e cheiros. Li que estes são considerados os mais exóticos e fascinantes do Magrebe... não posso fazer esta afirmação em consciência pois não conheço os outros mas que fiquei realmente surpreendida, fiquei! Tal como noutras cidades de Marrocos, são organizados segundo o tipo de produtos que comercializam, se bem que nos dias que correm já se encontre em praticamente todos eles os incontornáveis souvenirs e os produtos de contrafação. Estão dispostos pelas ruas estreitas da Medina e localizam-se a norte da praça Djema el-Fnaa. 
São locais sempre muito movimentados, e embora sejam pedonais, há que ter muita atenção às motos e bicicletas que por lá circulam... O local ideal para começar uma visita pelos souks é a Praça Djemaa el-Fna e a direção a tomar é qualquer uma. Isso mesmo, é ir à deriva, nas calmas, apreciando cada cantinho e cada loja, convivendo com o assédio dos comerciantes, regatear os preços, comprar coisas e desfrutar das cores e cheiros. Ao virar de cada esquina, um souk diferente:

- Souk Addadine (souk dos artigos em metal), onde o ruído dos trabalhadores a baterem o metal é uma constante;



- o Souk Chouari (cestos feitos com fibras de palmeira e madeira);



- o colorido Souk dos Tintureiros com as suas peles de lã e seda tingidas a secarem ao sol;












- o Souk Smata (chinelos marroquinos – babouches - e afins);

 - o Souk Zrabia (o principal mercado de tapetes);
- o Souk Siyyaghin (joalharia);


- o Souk El-Kebir (onde milhares de peles são vendidas para posteriormente serem tratadas);


- o Souk das Especiarias, localizado no Mellah, o antigo bairro judeu. 




Quando passeamos por Marraquexe podemos ver perfeitamente a maior cordilheira do Norte de África...o Atlas, que quase rodeiam a cidade, os topos encontravam-se cheios de neve.

Desde a chegada que era nosso objetivo fazer uma viagem de um dia fora de Marraquexe. Existiam as seguintes opções, Ouarzazate e Kasbahs (a minha preferida), Essaouira, Cascatas de Ouzoud ou Vale de Ourika. Depois de analisadas as caracteristicas de cada uma delas com o nosso "agente de viagens" Omar, decidimo-nos pelo Vale de Ourika por ser a menos cansativa, o vale fica a cerca de 40Km da cidade.

Ponto encontro em frente ao Café Glacier, a viagem ia ser realizada em Mini-bus. Nós, 4  estudantes de vários pontos do mundo, umas amigas americanas e uns casais nuetros hermanos... lá fomos nós naquele frenesim de trânsito "salve-se quem puder".

A excursão a Vale de Ourika é uma das mais comuns e promocionais de Marrakech. Recorrendo ao curso do rio Ourika foi possível admirar a paisagem do Alto Atlas, completamente diferente do que vimos em Marrakech.

Durante o passeio visitámos várias atracções turísticas:

  • Casa típica berbere -  É uma visita a uma casa berbere. Quando lá chegamos foi feita uma apresentação das divisões da casa, seguidamente assistimos confeção do chá berbere que nos foi oferecido a seguir com um lanche.
  • Vista panoramica sobre o Rio Ourika e Atlas.


  • Jardim aromático- esta paragem também foi bastante interessante. Foi-nos mostrada a plantação de ervas aromáticas medicinais e explicados os seus benefícios em termos de saúde, beleza e bem estar. Dei especial atenção a um fruto seco que não conhecia e que é muito visto em Marrocos, o fruto da argana ou "fruto da cabra".  Parecido com uma amêndoa, deste fruto pode ser feito óleo ou creme, normalmente    produzido artesanalmente por cooperativas sustentáveis de mulheres marroquinas que, na cultura local, utilizam principalmente o óleo para diversas finalidades.

Processo de crianção do oleo de Argana
  • Setti Fatma- Pequena cidade de onde parte para visitar as quedas de água do rio Ourika. Se gosta de natureza, sem dúvida, este é o ponto alto da viagem. São várias as quedas de água até chegar ao topo... aconselho-vos calçado apropriado pois é preciso alguma agilidade para lá chegar.


Marraquexe é um cenário privilegiado a qualquer amante da fotografia... a vontade é não parar de disparar, no entanto, ao contrário do mundo ocidental, muitas pessoas recusam-se a serem fotografadas, outras pedem mesmo dinheiro em troca dum momento Kodak. Se no passado essa recusa se devia a uma enraizada crença que a imagem furtada era como um pedaço de alma roubado, hoje as gentes deste país são bem mais pragmáticas: não desejam acabar num qualquer postal ou exposição como um personagem característico.

Até Breve مراكش

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